Friday, November 23, 2007

Mais uma dose

A picada no estômago
agulhada no coração
8 ou 80 não importa
nunca haverá satisfação

tem textura
tem sabor
e é sufocante
sinto na boca
me tapa a visão
falta coordenação

pequenas doses
pílulas de conforto
para, por dias
se fingir de morto

Monday, November 12, 2007

Ferrenhos Desportes

16:45. Foi esse o momento em que ela percebeu o sangue em seus braços. Ela sabe porque tinha acabado de olhar o relógio. Estava controlando o pato que havia posto no forno há uma hora. Ela corre para o banheiro e pára na frente do espelho em choque. Vendo os sangue em sua blusa e nos braços, assustada. Depois de alguns segundos, com uma piscada, como quem sai de um transe, ela volta a si, respira fundo uma vez e levanta um suave sorriso no canto da boca. Começa a lavar os braços muito calmamente. Ao terminar, pega um estojo de maquiagem no ármário do banheiro e começa a se maquiar. Primeiro passa um baton, depois o blush, com muito cuidado. E um rímel por último. Saindo do banheiro, já com um vestido limpo, ela abre o forno e tira o pato, que já cheirava muito bem. Pondo-o sobre a mesa, onde a família já esperava anciosa, ela diz: Me sujei inteira fazendo esse jantar. Espero que vocês gostem.

Thursday, May 24, 2007

Trava-língua

A cabra de guarda que guarda o cabra guarda o quadro quebrado no quarto do aquário.

Wednesday, April 4, 2007

As Cendendo

Outras formas não se encaixam no meu modelo
mas aquela também não
A textura aspera da pedra faz lembrar a seda
A vida morta ao lado
A vida morta do lado de dentro

Como a criança que tem tudo
Ele acaba brincando com nada
a pedrada impregnada
lembro de como era bom
lembro de como era ruim

Entre o três e o cinco
Troco pela cereja
Torço pelo toco que era
a qualquer hora
em qualquer era

De lados escuros
e cabelos nem tanto
trazendo nos novos pulos
pelos novos cantos
lados nem tão escuros

Monday, February 26, 2007

Stuck on you

O problema é sempre um problema, até certo ponto. Você pode fugir dele, mas não pode se esconder. Se ele não te acompanha, não quer dizer que ele não esteja lá. Como uma pessoa querida, pra onde você for, ele vai está dentro do seu peito, nos seus pensamentos. Talvez seja esse o ponto. Ao invés de se livrar do problema rapidamente, sem entender o porque ele está lá. Como a tia chata, que você ama, mas não pode passar mais do que 2 horas no mesmo recinto que ela, tem que trazer o problema pra perto. Aceitá-lo como parte da família. E depois de alguns esclarecimentos, fatos que você nunca ficou sabendo, ou não quis saber, você entende porque sua tia não para de falar. Você simpatiza. Você compreende. E passa a não deixar o telefone tocar quando ela liga. O problema é seu melhor amigo, sempre. É por causa dele, também, que você é o que você é. E o modo com que você lida com eles, tem grande influência na pessoa que você vai ser dalí pra frente. Encare. Cutuque. Sangre. Faça tudo isso no seu tempo. Mas nunca deixe de fazer. Não feche os olhos para o seu melhor amigo.

Wednesday, February 21, 2007

C=3,5g/ml

Alguns me definem como um punhado de átomos de carbono. Mas eu não concordo muito. Acho que todos somos muito mais que isso. O carbono sozinho não tem vida. Ele só reage quando encontra algo... muda. Acho que vivemos em constante mutação. E sendo assim, não conseguiria definir em algumas linhas algo tão complicado como uma auto-análise do tipo "quem sou eu". Tenho valores e idéias como todos, mas elas são apenas guias para ir em alguma direção. O dia em que eu chegar a uma conclusão sobre quem sou eu, é porque eu parei de pensar no assunto. E isso me assusta.

Sunday, January 28, 2007

eu sabia

Eu achava que era mentira minha
que eu estava mentindo pra mim mesmo
mas eu não mentiria pra mim
descobri que não era eu mesmo que mentia pra mim
era eu que mentia pra mim mesmo

crash test dummie

O metal retorcido reflete em perfeição
pontas afiadas e amassadas brilham na noite
estrelas voando por todo lado
entrando em meus olhos e abrindo minha carne

Vozes aos poucos se tornam audíveis
algo quente escorre pelo meu pescoço
antes de fechar os olhos
eu torço pra que seja você

Sunday, January 21, 2007

somnu

Minhas mãos puxam e empurram
sinto seda e maracujá
o beijo é iminente, então paro bem perto
seus pulmões enchendo os meus
enquanto seus cabelos prendem minha mão

um beijo alado

Minhas mãos envolvem e descobrem
sinto meus braços te agarrando
te trazendo e te levando
enquanto dançam as chamas
em seus quadris

um beijo acordado

Minhas mãos abrem e fecham... vazias
sinto saudades
lembro que não é suficiente
passa o dia enquanto dançam as chamas
em minha mente

Thursday, January 18, 2007

...

Não sei por onde terminar, fui ao centro e o azul não estava lá. Não sei como começou o último episódio. Acelerando atrás do fluxo, achei que tinha visto a entrada... ops.. passou. Nada é como parece e parece que dessa vez tá tudo errado. Apaga. Faz de novo, com os devidos s's, agora, por favor. Fui até o parque e o laranja não estava lá. Antes de ser humano sou animal. Se sujeitar aos instintos e sensações pra depois analizar é o que nos(me) manteve vivos até hoje. Como eu desligo isso? Então fui até o lago e o verde também não estava lá. A Lua está no céu. O Sol também, mas mesmo ao meio-dia, vejo o luar como o véu da canção. Dessa vez ele reflete a luz e com o canto do olho o caminho aparece duplicado. Contra-mão. Eu sabia. Antes isso que o muro. Não há como deixar de ser afetado por um movimento brusco. Então use o freio com moderação e corra com tesouras. Escalando a casa do vizinho pra pegar goiabas eu sempre caía. Depois eu descobri que o portão ficava aberto. Mas até lá, todo ortopedista era meu amigo. Voltei pra casa e estavam todas lá.

Saturday, December 9, 2006

cardápio

numa tarde à toa, hoje vejo
em minha casa
pela porta aberta da cozinha
uma leiteira um ralador de cebola
o pires do gato.
sobre a mesa tem um telegrama
que eu não li.

num museu em amsterdã
vi um quadro antigo
pela porta aberta da cozinha
uma leiteria uma cesta de pão
o pires do gato.
sobre a mesa tinha uma carta
que eu não li.

numa datcha à margem do mosková
vi há algumas semanas
pela porta aberta da cozinha
uma cesta de pão um ralador de cebola
o pires do gato.
sobre a mesa tinha o jornal.
que eu não li.

pela porta aberta da cozinha
vejo leite derramado
guerras de trinta anos
lágrimas nos raladores de cebola
mísseis anti-mísseis
cesta de pão
lutas de classes

embaixo à esquerda, bem no canto
vejo o pires do gato


hans magnus enzenberger

Tuesday, December 5, 2006

¡up side down!..................................¡umop apis dn!

depois da bonança, vem a tempestade

Monday, December 4, 2006

27 coisas em que acredito e 1 em que não

Faço parte dos que acreditam em amor a primeira vista. Acredito em destino e também acredito em duendes. Acredito que uma pessoa não deve fugir de quem realmente é, e acredito que cada um faz o que quer. Acredito em conexão mental e espiritual. Acredito que isso é mais importante do que um detalhe da personalidade. Acredito na verdade. Não sou religioso, mas ela os libertará. Acredito na máxima que diz que toda pessoa pode ser um artista. Só depende de sua habilidade prà coisa. Acredito na viagem. Física e mental. Acredito na morte e também acredito no que ela nos traz. Acredito na devastação. Acho que depois, sempre vem um bem maior. Sei que alguém pode ficar realmente destruído e sozinho. Acredito na escuridão, no pensamento e na introspecção. Também acredito na evolução e no renascimento. Acredito que de TUDO a gente consegue tirar uma lição. Acredito que alguém pode ser feliz antes dos 30. Acredito em cabelos morenos e olhos brilhantes. Acredito nas palavras, mas mais do que isso, acredito nas ações. Acredito no braço que me mantém apertado. Acredito no beijo que faz estremeçer o corpo quente. Acredito no toque e no coração acelerado. Só não acredito o quão rápido o espaço vazio foi tomado.